A igreja cristã nasceu no berço da religião judaica, cujo maior orgulho era o templo de Jerusalém, que foi considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. Não obstante essa ligação histórica entre cristãos e judeus, os primeiros seguidores de Jesus Cristo, não priorizaram a necessidade de construir edifícios destinados ao culto. Muito pelo contrário, pois criam que o “Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos dos Apóstolos 7.48).
Foi o apóstolo Paulo que expressou com maior veemência em seus escritos, a ideia de que os cristãos não necessitam de um espaço físico para se reunirem em culto a Deus, alegando que o corpo do cristão é o “templo” onde Deus habita em toda a sua plenitude. Aos cristãos de Corinto, ele indaga: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3.16).
Com essa nova concepção cristã de templo, os cristãos da primeira metade do Século I se reuniam em diversos lugares, como em casas, praças, às margens de rios e outros lugares ermos para realizarem suas celebrações cúlticas. No Novo Testamento, especialmente no livro de Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas, vamos encontrar muitos registros que nos mostram este fato.
Todavia, a partir da segunda metade do Século I, motivados pelas perseguições promovidas pelo Império Romano aos cristãos, eles passaram a se reunir em lugares mais específicos, como, por exemplo, as catacumbas, por serem locais menos visados por seus perseguidores.
No ano 313 d.C., o imperador romano Constantino, que via o cristianismo como uma religião em grande ascensão e com ampla penetração social, publicou o famoso “Édito de Constantino”, que facultou a liberdade de culto aos cristãos, impedindo, assim, qualquer forma de perseguição ou hostilidades aos mesmos.
Com a promulgação do Édito de Constantino, a concepção cristã primitiva a respeito do local para a realização do culto sofreu uma drástica alteração, pois o mesmo se tornou bastante centralizado em lugares mais específicos, conforme o historiador protestante Alderi de Souza Matos, afirma:
“Embora não se tenha descoberto nenhum templo, isto é, edifício destinado especificamente para o culto cristão, anterior a meados do terceiro século, é certo que bem antes disso os cristãos tinham espaços sagrados grandemente reverenciados. Um importante ponto de transição nesse processo evolutivo foi o impacto causado pelo imperador Constantino, o primeiro líder do Império Romano a identificar-se com a nova religião. Ele não só concedeu plena liberdade religiosa aos cristãos, como engrandeceu a igreja e seus líderes de várias maneiras. Em Roma e outras cidades imperiais, várias basílicas (edifícios públicos romanos), algumas muito grandes e majestosas, foram transformadas em templos cristãos, sendo dedicadas aos mais diversos mártires, agora vistos como santos. Constantino também construiu a Basílica de São Pedro no local tradicional do martírio do apóstolo e, na Palestina, a Igreja da Natividade, em Belém, e a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém”.
Por causa do avanço e crescimento do cristianismo, principalmente no Ocidente, em virtude do apoio político recebido do Império Romano, surgiram as majestosas catedrais, que na idade média atingiram o seu ápice, principalmente na Europa, onde foram erguidas as mais belas e imponentes, que eram motivo de orgulho da cristandade medieval. Neste sentido Alderi complementa, afirmando:
“Muitos desses templos, grandes ou pequenos, destacavam-se pela presença de relíquias, ou seja, objetos relacionados com Cristo, Maria e os santos (um pedaço da cruz, os ossos de um mártir, etc.), o que os tornava especialmente atraentes como centros de peregrinação. Concomitantemente, a nova posição de poder e esplendor da igreja gerou uma progressiva elaboração do culto, surgindo uma liturgia complexa e impressionante. Os templos e outros locais sagrados adquiriram uma conotação profundamente mística e até mágica, apelando fortemente à mente e às emoções através dos sentidos: o impacto visual da arquitetura, o impacto olfativo do incenso e das velas, o impacto auditivo da liturgia e da música sacra. Em cada detalhe, os templos cristãos refletiam os novos entendimentos da fé, como a crescente separação entre o clero e os leigos, aquele ocupando a abside, onde ficava o altar, e estes a nave do santuário. Eventualmente, na igreja oriental ou grega, uma parede completa passou a separar os dois grupos, denominada iconóstase”.
A partir do Século XVI, quando aconteceu a ruptura no seio do catolicismo romano, por causa do movimento religioso conhecido como “Reforma Protestante” na Alemanha, liderada pelo monge agostiniano Martinho Lutero, de certa forma os locais de cultos, que até então estavam circunscritos às catedrais e templos menores, vivenciaram mais uma vez uma nova fase em sua história.
Os protestantes com a ideia fixa de “retorno” às Escrituras Sagradas, isto é, a volta às práticas e doutrinas centradas unicamente na Bíblia (daí a expressão Sola Scriptura, ou “Somente as Escrituras”), rechaçaram muitos locais de culto, antes usados pelos católicos, principalmente por causa dos ícones religiosos que estavam presentes nestes locais. Todavia, depois de haverem “expurgado” dos templos e catedrais, aquilo que eles consideravam contrário ao que as Escrituras Sagradas condenavam, passaram a usa-los os tais locais para celebrarem seus cultos.
No Brasil, o primeiro culto protestante foi realizado em 10 de março de 1557, mas, precisamente na colônia francesa, denominada “França Antártica”, que ficava localizada na baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Os responsáveis por esse culto foram os pastores Peter Richer e Guillaume Chartier, ambos franceses, e ainda o estudante de teologia Jean de Lery, procedente de Borgonha que tinham como missão maior a implantação do protestantismo por aqui.
A missão protestante em terras brasileiras, encabeçada pelos dois pastores franceses não logrou muito êxito, em decorrência de alguns acontecimentos trágicos envolvendo o calvinista francês Nicolau Durand de Villegaignon, fundador da referida colônia francesa, e anfitrião dos missionários franceses. Duzentos e cinquenta anos mais tarde, dessa vez como resultado do tratado que Portugal firmou com a Inglaterra em 1810, o protestantismo voltou a se estabelecer no Brasil. No começo, tratava-se somente de pequenas congregações de imigrantes anglo-saxões e alemães. Em 1835, os metodistas norte-americanos enviaram um representante com a finalidade de indagar sobre as possibilidades de estabelecer a missão no Brasil. Pouco tempo depois, fundaram uma pequena escola que tinha alguns discípulos brasileiros, mas essa obra não foi terminada. Também as sociedades bíblicas, ou seja, as editoras da Bíblia protestante, tanto a britânica quanto a americana, enviaram Bíblias para o Brasil desde o começo do Século XIX, com o fito de levar o conhecimento das Sagradas Escrituras ao povo brasileiro, empreendimento que rendeu muitos bons resultados para a seara protestante, pois contribuiu desde então para o vertiginoso crescimento das igrejas evangélicas no Brasil.
A Constituição Imperial de 1824 foi a primeira constituição brasileira. De caráter confessional, estabelecia em seu artigo 5º a religião Católica Apostólica Romana como religião oficial do Império, e as demais religiões tinham, apenas, o direito de culto doméstico, ou particular em locais com esta destinação, que não poderiam ter aparência exterior de templo. Como pode ser observado na transcrição abaixo do referido artigo:
“Art. 5º A religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.
A proibição constitucional, acima mencionada, efetivamente tolheu a oportunidade de serem construídos no Brasil, nas primeiras décadas da evangelização protestante, belíssimos templos, que certamente embelezariam ainda mais a paisagem urbanística brasileira.
Em 1911 chegaram a Belém do Pará dois jovens missionários suecos oriundos dos Estados Unidos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, cujo objetivo precípuo era a evangelização no norte Brasil. Ambos eram membros da Igreja Batista nos Estados Unidos, por isso foram inicialmente acolhidos pela Primeira Igreja Batista de Belém, localizada na Rua João Balby, 406, cujo pastor era o reverendo Eurico Nelson. Entretanto, a despeito da boa acolhida aos dois missionários suecos pelo reverendo Nelson, por questões de ordem doutrinária defendidas pelos suecos, ambos foram desligados da Primeira Igreja Batista de Belém, dando início a partir deste acontecimento a Assembleia de Deus no Brasil, cuja principal característica doutrinária é a crença na atualidade dos dons espirituais que são concedidos aos crentes pela ação sobrenatural do Espírito Santo, com o objetivo de motiva-los à evangelização das nações, conforme o próprio Jesus Cristo preconizou em Atos dos Apóstolos, capítulo 1, versículo 8.
No dia 8 de novembro de 1914 foi inaugurado o primeiro templo da Assembleia de Deus no Brasil, que ficava localizado na Travessa 09 de Janeiro, número 75, em Belém do Pará. A inauguração deste primeiro templo representou uma grande conquista para os missionários pioneiros da denominação no Brasil, que a partir de então tinham um local próprio para suas celebrações, o qual também serviria como sede nacional da igreja em nosso país. Além disso, este primeiro templo contribuiria para motivar a construção de outros templos da denominação no país, servindo como modelo para os mesmos.
José Laelson da Silva é pastor. novasdeesperanca@gmail.com
Fonte: AD Alagoas
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